quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Apesar da crise portugueses estão mais solidários






Os tempos, já se sabe, são complicados. São cada vez mais aqueles que precisam de ajuda para continuar a “sobreviver”. Neste final de ano, foram muitas as ações de solidariedade e, mais uma vez, os portugueses mostraram que não esquecem quem precisa. Esta semana, destacamos algumas iniciativas que, de norte a sul e ilhas, merecem o aplauso de todos... 



Num ano marcado pela palavra crise - o aumento do desemprego, da pobreza e da exclusão social são cada vez mais habituais no dia a dia de todos - a solidariedade “crescente” dos portugueses é, sem dúvida, o lado positivo de uma época que todos desejam que termine rapidamente.

Exemplo desta crescente solidariedade foi a campanha dos Bancos Alimentares Contra a Fome efetuada no fim-de-semana de 1 e 2 de Dezembro, onde foi recolhido 2.914 toneladas de géneros alimentares nas ações realizadas em 1.668 superfícies comerciais das zonas de Abrantes, Algarve, Aveiro, Beja, Braga, Coimbra, Cova da Beira, Évora, Leiria-Fátima, Lisboa, Oeste, Portalegre, Porto, Santarém, Setúbal, S. Miguel, Viana do Castelo, Viseu e na Terceira.

Os resultados ultrapassaram as expectativas, quase igualando os alcançados na campanha do ano passado, apesar da significativa deterioração das condições económicas e, em particular, da contração do rendimento disponível das famílias portuguesas. 

“Os portugueses são extraordinários! As quantidades recolhidas e o número recorde de voluntários envolvidos mostram quanto são solidários e sabem distinguir o essencial do acessório, dando, apesar da crise que afeta muitas famílias, uma resposta clara de inconformismo e de disponibilidade para ajudar a minorar as dificuldades daqueles que mais precisam” referiu Isabel Jonet, Presidente da Federação dos Bancos Alimentares Contra a Fome, em declarações disponibilizadas no site do Banco Alimentar. “Quando acreditam e confiam nos projetos, os portugueses dizem “presente”, conforme tem sucedido sucessivamente com os Bancos Alimentares contra a Fome desde há mais de 20 anos” acrescentou.

O número daqueles que ajudaram constituiu um recorde absoluto: 38,5 mil voluntários disponibilizaram algum do seu tempo para participar na campanha de recolha. Refira-se que tarefas como a recolha nos estabelecimentos comerciais, o transporte, pesagem e separação dos produtos, foram integralmente asseguradas por voluntários.

De realçar que os géneros alimentares recolhidos são depois entregues a 2.373 Instituições de Solidariedade Social, que, por sua vez, os distribuem a cerca de 373 mil pessoas com carências alimentares comprovadas, sob a forma de cabazes ou de refeições confeccionadas.

Refira-se também que a atividade dos Bancos Alimentares Contra a Fome se prolonga ao longo de todo o ano. De facto, para além das campanhas de recolha em supermercados, organizadas duas vezes por ano, os Bancos Alimentares Contra a Fome recebem, diariamente, excedentes alimentares doados pela indústria agro-alimentar, pelos agricultores, pelas cadeias de distribuição e pelos operadores dos mercados abastecedores. 

Em 1991, foi aberto em Portugal o primeiro Banco Alimentar Contra a Fome e estão, atualmente, em atividade no território nacional 20 Bancos Alimentares, congregados na Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares, com o objetivo comum de ajudar as pessoas carenciadas, pela doação e partilha. 

Existem 247 Bancos Alimentares operacionais na Europa, que, em 2011, distribuíram 429.600 toneladas de produtos a 5,2 milhões de pessoas, através de 31.096 associações (www.eurofoodbank.org).



Cáritas: cada vez mais pedidos...



A crise, o desemprego e a pobreza obrigaram a Igreja Católica a recentrar-se na sua função de solidariedade social, cada vez mais criteriosa, devido aos crescentes pedidos de ajuda, de famílias inteiras, algumas no limite de sobrevivência.

Da Igreja já não se espera apenas consolo espiritual e orientação moral. Para aqueles que deixaram de conseguir fazer face às despesas, crentes ou não crentes, as suas paróquias transformaram-se numa ‘tábua de salvação’, muitas vezes a última esperança para quem já bateu a todas as portas onde podia encontrar auxílio.

O padre Mário Rui Pedras, pároco na igreja de S. Nicolau, em Lisboa, entende que a crise, apesar de ser “em si mesma uma coisa muito desagradável”, pode também ser uma oportunidade para refletir sobre a atual situação, e até mesmo “um convite à mudança e à conversão [religiosa]”. Mas é sobretudo de bens essenciais que se tem feito o apoio prestado pela paróquia. Com a ajuda de voluntários e dos donativos que chegam à igreja, a paróquia de S. Nicolau apoia neste momento 12 famílias carenciadas, todas as semanas, com alimentos frescos e não só. Outras 153 são ajudadas todos os meses, com alimentos doados pelo Banco Alimentar e pela comunidade. 

Só no mês de outubro esta pequena paróquia recolheu e distribuiu mais de 280 kg de alimentos. “A igreja é relativamente pobre e o que fazemos é o milagre da multiplicação: pedimos para dar, mas também encontramos apoios noutros setores”, disse o padre, em entrevista à Lusa.

O desemprego foi o principal responsável pela “nova realidade de pobreza” com que esta paróquia passou a lidar diariamente, tendo desde então tentado encaminhar as situações que ali chegam para “pequeninas bolsas” de emprego que conhecem. “É um trabalho mínimo, pequenino, obviamente, mas que tem algumas respostas. Há outro tipo de respostas muito simples que vamos dando. Estamos neste momento a apoiar dez famílias que vivem em situação de dificuldades, por não terem dinheiro para pagar a renda, a luz, a água, os livros dos filhos. Depois de fazermos a triagem, encontramos um conjunto de apoios de outras famílias que vão ajudando a resolver estas situações”, contou o padre.

Histórias como estas repetem-se por todo o país. O presidente da Cáritas Diocesana do Algarve, Carlos Oliveira, revelou à agência Lusa que esta instituição, com sede em Faro, entre janeiro e novembro, atendeu 1033 famílias necessitadas, das quais 404 eram novas famílias em relação a 2011. No total, estas 1033 famílias representam 2665 pessoas, mais 1087 do quem 2011.

Rendas e prestações de casa, água, luz, gás, livros escolares, propinas. À Cáritas do Algarve chegam pedidos de ajuda para todo o tipo de despesas. A alimentação, sendo uma das maiores carências, não é o apoio mais procurado, apesar de tudo. “As pessoas ficaram desempregadas, mas não é por causa disso que falta comida à mesa. Depois atrasam é o pagamento da renda de casa e das contas da água, luz e gás”, explicou.

Por serem cada vez mais os pedidos de ajuda, é também cada vez mais difícil dar resposta a todos. A instituição tem sido obrigada a recorrer ao Fundo Diocesano Social, constituído por donativos e por um vencimento anual de cada pároco da diocese, mas Carlos Oliveira revelou que neste momento ele “está quase esgotado”, o que obriga a analisar de forma “muito precisa” os pedidos que chegam para poder “dividir o mal pelas aldeias”.

Desde que foi criado, em fevereiro de 2009, este fundo já distribuiu ajudas num valor superior a 91 mil euros.

Em Viana do Castelo, outra Cáritas, a

mesma realidade. O tesoureiro da instituição, Carlos Barbosa, desfia a contabilidade

da pobreza do distrito com a tranquilidade quase indiferente de quem convive diariamente com ela. À Cáritas de Viana do Castelo chegaram até novembro 1766 famílias a pedir ajuda, mais 148 novas famílias do quem 2011. Já foram gastos mais de 56 mil euros até novembro, quando o total dos apoios em 2011 se tinha ficado pelos 42 mil euros.

Também até novembro, e desde o início do ano, a instituição de Viana do Castelo pagou 6.100 euros de contas de eletricidade em atraso, 3.700 euros em contas de gás, 3.100 euros em rendas, e gastou mais de 16 mil euros com ajudas médicas para medicamentos, consultas particulares, óculos, vacinas, entre outras coisas. Quem ali chega pede ajuda para tudo: para comer, para comprar fraldas para idosos, para pagar o passe social dos filhos, para pagar os livros escolares, para comprar enxovais para recém-nascidos, até para pagar o IMI (Imposto Municipal sobre Imóveis).

Carlos Barbosa garantiu que, apesar da crise, ainda não há quebras nos donativos, e que com o auxílio de uma verba mensal que recebem da Câmara Municipal ainda conseguem chegar “ao que é essencial”.




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